domingo, janeiro 10, 2021

Manoel, foi pro céu


Manoel de Barros (1916-2014), poeta brasileiro, um dos principais autores contemporâneos do país. Nasceu em Cuiabá e cresceu na fazenda da família, no Pantanal, tema constante de suas poesias.  Formou-se em Direito no Rio de Janeiro e depois viajou para Peru, Bolívia e Estados Unidos onde fez curso de cinema e artes plásticas. Em 1989 ganhou o Prêmio Jabuti com a obra "O Guardador de Águas". 

A natureza é frequentemente citada em seus poemas, bem como neologismos, o uso de linguagem simples e às vezes surrealista.

Em 1947 Manoel de Barros casou-se com Stella Barros e juntos tiveram três filhos: Pedro, João e Marta. João morreu em 2008 e Pedro em 2013. Manoel faleceu em 2014 aos 97 anos e Stella se foi em 2020 aos 99 anos. 


"A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio

do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores

e até infinitos."

 

Biografia do orvalho 

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou — eu não
aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.



 

Uma didática da invenção

          O rio que fazia uma volta

atrás da nossa casa

era a imagem de um vidro mole...

Passou um homem e disse:

Essa volta que o rio faz...

se chama enseada...

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro

que fazia uma volta atrás da casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.



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